Quem o conhece, reconhece. Está lá o traçado, muitos dos azulejos originais, os florões e dentilhões recuperados, a escadaria, as ruas e toda a fachada original. Depois das obras de reabilitação, e a 62 dias da abertura, ao Mercado do Bolhão faltam apenas pequenos pormenores. E faltam também os cheiros, as cores, os sons. E as pessoas. A 15 de setembro, o sino volta a tocar as batidas do coração da cidade. Para sempre.
No dia em que o Município apresentou a nova marca do centenário espaço de venda e encontro, uma campanha afetiva, criada pelo Studio Eduardo Aires, que valoriza a memória do Bolhão e reafirma o garante da identidade deste símbolo da cidade, o presidente da Câmara do Porto não deixou de “agradecer a confiança dos vendedores, que tinham todas as razões para estarem desconfiados, porque durante anos foram feitas promessas que falharam”.
Para Rui Moreira o “projeto de reabilitação notável”, da autoria de Nuno Valentim Lopes, é também “um ato de grande generosidade” do arquiteto na procura pelo exigente equilíbrio entre a preservação do património material e imaterial intrínseco ao Bolhão.
Depois de 953 reuniões com os comerciantes e 225 visitas à obra, decorrem agora pequenas correções na sequência das vistorias realizadas e é dado tempo para que todos ajustem as bancas e lojas conforme as preferências. Ao Mercado do Bolhão voltam 62 comerciantes (mais 29 novos) e 27 inquilinos históricos (e 12 estreantes), para um total de 81 bancas, 38 lojas e dez restaurantes que assumem o compromisso de comprar os produtos nas bancas do mercado.
A reorganização do espaço é simples: o mercado de frescos é no piso térreo, os restaurantes são no piso superior e as lojas ficam voltadas para o exterior. A obra, assumida pela empresa municipal GO Porto, apresenta um edifício mais transparente e reforça a sua interligação com a cidade com a criação de uma praça na entrada da Rua Formosa onde vai ser possível fazer eventos, de uma ponte que liga diretamente as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira, “uma nova rua da cidade”, e ainda de uma entrada direta a partir da estação de metro.
“O mercado, parecendo o mesmo, tem coisas diferentes”, afirmou Rui Moreira, referindo-se, entre outras valências, à instalação de elevadores ou à maior capacidade logística conseguida com a criação de uma cave para descargas. Desta forma, “não vamos ter à volta do mercado as carrinhas a descarregar”.
A marca Bolhão
A marca Bolhão, sob o mote “É para sempre”, resulta de uma estratégia que se começou a desenhar em 2018, aquando da abertura do Mercado Temporário do Bolhão. Com a articulação de elementos reconhecíveis da identidade visual do Porto, pretendeu-se consolidar a dimensão municipal do mercado, a sua centralidade e importância, integrando-o na linguagem global da cidade, comunicando Bolhão e Porto como complementares e indissociáveis.
Uma filiação de ordem tipográfica, cromática e compositiva, que fez igualmente uso da malha quadrangular evocativa do azulejo, já utilizada para assinalar o percurso entre o edifício original e o temporário, assim como nas imagens dos comerciantes que revestem o espaço que, há quatro anos, recebe o Bolhão.
Neste “monumento feito de pessoas, de sons, de cheiros, de tradição”, como referiu o presidente da Câmara, há ainda uma fachada que volta ao que era, à cor da primeira hora, ao tom do “granito portuense quando está exposto ao sol”.
Lembrando como a cronologia do mercado se fez também de incertezas, se seria concessionado, privatizado ou mesmo se ali nasceria um centro comercial, Rui Moreira assegurou que será a Câmara a fazer a gestão do espaço. “Não vamos entregar o mercado a ninguém”, garante o presidente, afirmando que “a cidade decidiu que o Bolhão era seu”. E é para sempre.